Do Jogo do Bicho pra boca do povo
Algumas das expressões que hoje você usa e algumas convenções culturais em que você acredita vieram do bom e velho Jogo do Bicho! Surpreso? Veja alguns exemplos:
“Ih, deu zebra!”
Em 1964, antes de uma partida de futebol entre Portuguesa e Vasco da Gama, o técnico da Portuguesa deu uma entrevista em que, com baixas expectativas em relação a sua equipe, disse aos repórteres que as chances de eles vencerem o Vasco da Gama era a mesma de dar zebra no Jogo do Bicho. Como não há “zebra” no Jogo do Bicho, ele quis dizer que a vitória nesse jogo seria impossível. Porém a Portuguesa ganhou o jogo e os repórteres gostaram tanto dessa expressão, que começaram a usá-la constantemente no contexto de jogos de futebol com o significado de “derrota impossível ou inesperada”. Com o tempo a expressão ganhou as ruas e hoje dizemos “deu zebra” para se referir a qualquer tipo de “tragédia” inesperada ou azar.
“Fazer uma vaquinha”
Essa expressão tão utilizada por nós hoje em dia, que significa que cada pessoa contribui com uma quantidade de dinheiro para pagar algo, surgiu de uma maneira bem interessante. Durante a década de 1920, quando os jogadores de futebol ainda não recebiam salários (sim, já houve essa época!) a torcida do Vasco inventou uma tática para motivar os jogadores em campo: a cada resultado positivo, os atletas recebiam um prêmio em dinheiro arrecadado pelos torcedores. O valor dependia do placar e era inspirado em números do Jogo do Bicho. Um empate, por exemplo, valia 5 mil réis, o chamado "um cachorro", o número 5 do Jogo do Bicho. A recompensa mais cobiçada era justamente "uma vaca", o número 25 - ou seja, nada menos que 25 mil réis, pagos somente em vitórias históricas ou em conquistas de títulos. Com o tempo a expressão “fazer uma vaca”, e logo, “fazer uma vaquinha” se espalhou por outros contextos e é usada em qualquer situação em que um grupo de pessoas racha uma despesa em comum.
A conotação homossexual do número 24
Já parou pra pensar por que, somente no Brasil, o número 24 é fortemente evitado pelos “machões” desde às listas de chamada na escola, até nos números de camisas de futebol de jogadores profissionais? Pois de novo, veio do Jogo do Bicho! O número 24 corresponde ao grupo do Veado no Jogo do Bicho e, sendo a palavra “veado” usada em nossa cultura para se referir a homens homossexuais (com um sentido bastante pejorativo, diga-se de passagem), virou piada associar o número 24 com a homossexualidade.
Esses são apenas exemplos dos muitos outros traços de nossa cultura que estão totalmente enraizados no Jogo do Bicho.
A verdade é que, muito além da ilegalidade, essa instituição tupiniquim marca uma cultura em que a imaginação, a crença na sorte, no azar, na magia, sustentam a esperança de um povo de um dia poder subir na vida, e, porque não, se divertir nesse processo.
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